30 de setembro de 2019 09:22
Audiência Pública debate revitalização da citricultura em Sergipe
Considerada a principal pauta de exportação do Estado, o suco de laranja congelado representa, atualmente, 3% do PIB sergipano e se encontra em 5º lugar na produção nacional de laranja, ficando atrás apenas para os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Paraná. Pensando nesse baixo desempenho, a revitalização da citricultura sergipana foi pauta de uma audiência pública, ocorrida hoje (23), na Assembleia Legislativa de Sergipe, onde citricultores, gestores públicos ligados à agricultura, deputados estaduais e federais, prefeitos, associações de agricultores da região citrícola puderam debater os principais pontos dessa importante cadeia produtiva para o Estado.
Após ser aberta a audiência, o presidente da Emdagro, Jefferson Feitoza de Carvalho, fez um breve histórico da citricultura em Sergipe e em seguida apresentou dados sobre sua realidade atual e as ações que o Governo do Estado vem realizando para manter a região citrícola fortalecida. “O suco de laranja congelado representa hoje 52% do total de exportação no estado, com 354.960 toneladas do fruto, seguido da produção de calçados (13%), açúcar refinado (9,6%) e outros produtos (24,5%). No entanto, É preciso que a citricultura tenha um olhar diferenciado do próprio citricultor, juntamente, com os órgãos do Estado, Seagri e Emdagro, bem como a sociedade civil organizada, para debater e organizar a região citrícola”, frisou ele.
Jefferson detalhou ainda os desafios que a citricultura deve enfrentar. “No aspecto técnico, onde se encontram as limitações operacionais, a baixa produtividade dos pomares e da qualidade dos produtos são reflexos de uma pequena estrutura fundiária, aonde 80% das propriedades citrícolas não chegam a 10 hectares, das medidas fitossanitárias inadequadas e da baixa tecnologia empregada; no aspecto econômico, a limitação na capacidade de capitalização do produtor, a dificuldade em abrir novos canais de comercialização e a redução de investimentos nos pomares; e no aspecto de organização da cadeia produtiva, a extinção de cooperativas e enfraquecimento das ações coletivas, atrelados à falta de profissionalização do produtor”.
O presidente destacou também um novo programa que está em elaboração em parceria com a Embrapa, chamado ‘Citricultura para o Nordeste e para o Futuro’. “Esse programa vem sendo construído pela Emdagro, em parceria com a Embrapa, e integrado com a citricultura familiar (seleção de agricultores familiares) e médios produtores, para introdução de novas variedades copa, com aptidão para o mercado de fruta in natura e para indústria, e porta-enxertos de citros para serem validados em uma rede de pomares pré-comerciais. Esse programa tem recebido o apoio do Governo do Estado para a introdução dos pomares pré-comerciais nas propriedades dos agricultores familiares, observando todo manejo da cultura desde sua introdução até a colheita”, frisou Jefferson, acrescentando que em breve estará à disposição dos citricultores.
E finalizou dizendo que o que a região precisa é de uma solução definitiva para os problemas da citricultura. “Esses problemas passam, necessariamente, pela falta de recursos para se investir na citricultura. Por isso que foram convidados todos os parlamentares, não só os estaduais, mas os federais também e senadores, assim como as secretarias municipais dos municípios envolvidos, para que se chegue numa solução definitiva, já que os projetos já estão prontos e as propostas já existem” concluiu o presidente.
Para o Vice-Prefeito de Boquim, Chicão Almeida, a audiência é para sensibilizar as autoridades sobre a situação da citricultura sergipana. “Nós pretendemos sensibilizar as autoridades, principalmente, a bancada federal de Sergipe, para que possamos mostrar o quadro de dificuldades pelo qual passa a citricultura do Estado. Nós tivemos uma citricultura que já gerou 100 mil empregos e que hoje não chega a 30 mil. Tínhamos uma citricultura que abrangia uma área de 56 mil hectares de laranja e hoje não chega a 30 mil. Tínhamos uma citricultura que produzia cerca de 800 mil toneladas de laranja e hoje não produz sequer 400 mil toneladas. Então é essa realidade, do desemprego, das dificuldades pelas quais passam as regiões Sul e Centro-Sul, dos 14 municípios que compõem a região citrícola. Por isso, o objetivo aqui hoje é sensibilizá-los da necessidade de uma emenda parlamentar, uma emenda de bancada, capaz de dotar a Secretaria de Estado da Agricultura de condições para que possa trabalhar a revitalização da região citrícola em Sergipe”, detalhou Chicão.
O Vice-Prefeito apresentou ainda algumas sugestões para que o Governo do Estado possa adotar. “Nós temos um diagnóstico que foi elaborado pela Comissão de Citricultura que aponta uma série de soluções, mas a gente reforça dentro desses pontos é o apoio do Estado através da assistência técnica, o apoio financeiro através dos agentes financeiros, da renegociação das dívidas rurais de citricultores, o apoio dos municípios, enfim, todo um complexo de situações que a gente julga importante para rever o quadro caótico que se encontra a citricultura nesse momento”.
O secretário de estado da Agricultura, André Luiz Bomfim Ferreira, participou da audiência e disse que já está pleiteando recursos de emendas que contemplam demandas do setor citrícola.
“Entendo que o resultado dessa discussão feita com os municípios, técnicos e parlamentares, como também o documento com diagnóstico e propostas apresentado pela Comissão de Citricultura contribui para o planejamento da revitalização deste setor produtivo. Na semana passada estive pessoalmente com os parlamentares federal e senadores buscando apoio para emendas que viabilizes projetos de desenvolvimento do nosso setor agrícola”, disse o secretário André.
Na avaliação do Assessor Técnico da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Sergipe (FETASE), Josélio Oliveira, é necessário montar um plano estratégico em curto prazo. “É interessante fazermos um mapeamento, já que foi feito um diagnóstico levando-se em consideração a questão das pragas, da perda das safras, o pomar envelhecido, o que é importante montarmos um planejamento de ações a curto e longo prazo que vai desde o combate a praga da mosca negra, do fortalecimento do mercado até a reestruturação da Emdagro”, disse o Assessor.
Segundo ele, a Emdagro merece uma atenção especial por já ter um trabalho consolidado no Estado. “Nós temos a Emdagro como uma unidade de ater importante e de um trabalho reconhecido em Sergipe, por isso que é preciso que ela seja reestruturada cada vez, abrir novos concursos para que seja revitalizada e para que possa garantir uma ater pública de qualidade a todos os trabalhadores rurais de Sergipe”, reforçou Josélio Oliveira.
No mesmo entendimento, o Deputado Estadual Garibalde Mendonça, também destacou a necessidade de reestruturação da Emdagro. “Ela precisa de um aparelhamento. A Emdagro está precisando de tudo isso para dar uma sustentação técnica ao Estado e nós estamos aqui para somar e dar nossa parcela de contribuição”.
Carta Aberta
Na ocasião, foi entregue ao Deputado Estadual Zezinho Sobral, que presidia a audiência pública, uma carta aberta intitulada “Revitalização da Citricultura das Regiões Sul e Centro-Sul do Estado”, onde contempla 11 tópicos minuciosamente levantados em reuniões entre técnicos da Emdagro, representantes dos municípios da região citrícola, Seagri, Mapa, Embrapa, UFS, Sebrae, Superintendência do Banco do Nordeste, Dnocs.
O documento reivindica uma revitalização da assistência técnica e extensão rural pública estadual; melhoria da estruturação das atividades da Defesa estadual; regulamentação, por parte do estado, nos aspectos da produção de mudas; compromisso de entidades da cadeia produtiva da citricultura, visando priorizar os pequenos produtores com ações e recursos financeiros voltados à aquisição de equipamentos e implementos agrícolas; operacionalização da Unidade de Produção dos Inimigos Naturais (Upin) para a citricultura; organização rural; melhorias dos aspectos da comercialização; análise da situação de endividamento dos citricultores; melhor apoio dos gestores municipais; zoneamento de risco climático e segurança no campo.
Participaram da audiência pública os deputados estaduais Luciano Bispo; Adailton Martins; Luciano Pimementel; Garibalde Mendonça; Iran Barbosa; Zezinho Guimarães; Dilson de Agripino; Ibrain Monteiro; Goreth Reis e Maria Mendonça, além dos deputados federais Laércio Oliveira e Bosco Costa; prefeitos e sociedade civil organizada e órgãos representativos.