Para resgatar e valorizar a identidade do homem do campo, o Festival de Sabores reuniu os saberes populares presentes em receitas passadas de geração em geração, no campus da Universidade Federal de Sergipe em Itabaiana. Mais de 300 agricultores familiares de seis municípios do semiárido sergipano participaram do evento, que integrou a programação da capacitação em Gestão de Recursos Naturais do Programa Águas de Sergipe, desenvolvido pelo governo do Estado, através da Emdagro.
Durante a abertura, o diretor de Assistência Técnica e Extensão Rural da Emdagro, Esmeraldo Leal, destacou a importância do evento. “Quero valorizar a grandiosidade que foi oferecer, a mais 1.200 agricultores, informações que os capacitaram para uma mudança de postura da prática convencional de plantio para a prática agroecológica, e este Festival de Sabores vem coroar esse momento de troca de experiências, com receitas antigas, como forma de resgatar a cultura dos agricultores através de sua culinária”, disse Esmeraldo para os presentes.
O diretor do Campus da UFS em Itabaiana, Marcelo Alves Mendes, colocou a instituição À disposição da realização de outros eventos como esse. “É muita satisfação participar desse evento com agricultores e instituições que tem compromisso com a formação do nosso povo, com o fortalecimento da sociedade. Quero dizer que a UFS campus Itabaiana estará sempre de portas abertas para iniciativas desse tipo, e
quero parabenizar à coordenação do evento por criar um debate extremamente importante sobre o manejo, o mau uso e o desperdício da terra, da água, energia e de alimentos”.
Para Fabiana Thomé da Cruz, consultora da empresa Água e Solo, contratada pelo Programa Águas de Sergipe, as boas práticas agropecuárias e de fabricação de alimentos devem ser o foco de todo aquele que busque consumir ou produzir alimentos de maneira mais saudável. “Os cuidados com higiene na preparação e consumo dos alimentos nos levam pensar a qualidade de um jeito mais amplo. Esses produtos têm um potencial muito grande em relação ao marcado consumidor e ao turismo, mas para que cheguem valorizados a esses mercados, precisam ter higiene e qualidade”, disse ela.
Ainda segundo a consultora, por meio da culinária as pessoas conseguem resgatar e valorizar suas identidades. “A gente não está falando somente de comida, mas também de autoestima, de vida, de cuidado consigo mesmo, desse resgate histórico e da questão cultural. Então, se a gente está pensando em desenvolvimento, tem que começar pensando no que tem de melhor em cada território e por meio da culinária – com o perdão do trocadilho – a gente tem um prato cheio e um horizonte de possibilidades”, brincou Fabiana Thomé.
Nas oficinas, foi constatada a necessidade de resgatar esse conhecimento através da valorização da tradição cultural gastronômica de cada local. “Nos demos conta de que há todo um conhecimento envolvido na preparação de alimentos feitos pelas avós, pelas mães. E é um conhecimento que vem se perdendo, uma vez que gerações mais novas por vezes desvalorizam esses produtos e não dão continuidade a essas receitas. Dois exemplos são pratos deliciosos, como o manjogome e a taioba, que tive a oportunidade de experimentar hoje aqui”, apontou Fabiana, surpresa.
Após as breves apresentações no auditório, os participantes do evento se dirigiram para a área externa da Universidade para degustar os pratos feitos a partir das receitas trazidas por alguns dos agricultores. “Esse festival foi muito bom em diversos aspectos, não só as receitas, mas também porque estamos aprendendo a conservar nosso solo para não chegarmos ao ponto de ver nossa terra ficar destruída e sem produzir nada. As meninas da Emdagro nos ensinaram a aproveitar o que a gente planta, a exemplo da folha da batata e da folha da mandioca, que já estávamos perdendo”, disse o agricultor Clóvis Cardoso dos Santos, do povoado Mangabeira (Itabaiana).
Aprendizados para toda a vida
A agricultora Lícia Floresta Oliveira, da Agrovila, localizada no Perímetro Irrigado Jacarecica, também em Itabaiana, disse que aprendeu muito com a perspectiva da agroecologia ao longo da capacitação. “Meus avós, que eram de outra comunidade, sempre plantaram inhame, fava, feijão e batata de forma convencional. Nesse curso vimos uma nova mentalidade quanto à questão do uso do veneno, vimos também novas práticas de cultivo e de manejo voltados para uma agricultura orgânica, agroecológica, com o sistema da integração lavoura e pecuária, isso porque estamos percebendo o esgotamento do solo, o aumento das áreas de diversificação pelo mau uso da terra e também a questão de abrir a mentalidade para as novas tendências e a mudança de comportamento”, frisou a agricultora.
Feliz por participar das capacitações e do festival de sabores, a agricultora Eliene Santana, do povoado Tapera da Serra (Campo do Brito), disse que levará os conhecimentos adquiridos para toda a vida. “O momento agora está sendo proveitoso. Estamos aqui degustando nossos sabores, descobrindo muitas delícias. Tudo o que aprendi vou levar para sempre. Cuidar da natureza, respeitar principalmente a terra e, com isso, fazer um trabalho bem melhor. Esperamos, com esses cursos, aumentar nossa renda através da melhoria da qualidade da produção, ao utilizarmos os mecanismos que a gente aprendeu aqui”, destacou.